domingo, 26 de fevereiro de 2012

As Mulheres, A Mulher

Ela estava zangada. Sabia-o porque, embora - orgulhosa - não mo dissesse, revirava os olhos discretamente sempre que lhe tentava falar, tinha os braços cruzados em frente ao peito e batia ritmicamente com o calcanhar no chão. Olha para mim... Vá lá, não fiques assim. E nada. Honestamente não conseguia compreender o que tinha desencadeado aquilo. Quando lhe perguntava, parecia ficar ainda mais irritada, sorrindo de forma cínica e atirando-me um nada seco. Eu sabia - porque já mo disseram - que as mulheres, por algum motivo, não gostam de dizer à primeira o que as aborrece e ficam desiludidas quando nós não entendemos e, portanto, sabia igualmente - também por mo terem dito - que o meu dever enquanto companheiro dedicado, era insistir e abraçá-la com delicadeza até que a fúria lhe saísse do espírito. E, qual pupilo empenhado, foi isso que fiz. Na primeira, na segunda, na terceira, quarta, quinta (...), vez. Mas após dois meses de compromisso e de duas mil situações idênticas àquela, deixei de insistir. Perguntei duas vezes. Perante a sua relutância em sequer olhar-me, encostei-me na cadeira, bebi o resto do café e permaneci calado, à espera de que ela quebrasse o silêncio a que tinha dado início. Não o fez. Quando a hora de jantar se aproximava, pediu-me com rispidez que a levasse a casa.
- Então, e o nosso jantar?
- Queres jantar comigo para quê? Para ficarmos calados o tempo todo? Leva-me a casa. Estou cansada.
Fiquei atónito, mas não disse nada nem pretendia obrigá-la a estar comigo, quando claramente me parecia que não era esse o seu desejo. Fomos calados o tempo todo, deixei-a à porta e fiquei a olhar para ela, enquanto a via procurar as chaves de casa na sua mala confusa e desarrumada. Nunca encontro nada aqui dentro, raios! Perguntei-lhe se íamos mesmo ficar assim. Um estou bem, não se passa nada, um encosto de lábios frio e o barulho da porta do carro a bater. Não olhou para trás. Dias depois, estava a terminar comigo, histérica e chorosa, porque eu não a compreendia, não comunicava com ela, porque devia ter percebido que homens como eu não são homens de compromisso. Fiquei magoado, mas não tenho, como ela e tantas outras boas mulheres, o hábito de demonstrar esse tipo de maus sentimentos. Acabou, toma o casaco que cá deixaste no dia em que fomos jantar fora, agora sai daqui, sai! e eu saí. A caminho de casa, recebo uma mensagem dela: é incrível como nem sequer lutas por mim. isto foi uma perda de tempo. enfim... Quando cheguei a casa, senti-me simultaneamente pesado e vazio. Comi os restos do almoço e, enfadado, deixei-me afundar no sofá, a tentar compreender as mulheres, aquela mulher. E, como sempre, a não conseguir. 

Ora bem...

Já tinha pensado em criar um blog algumas vezes embora nunca o tivesse feito antes, mas parece que é desta que entro na chamada blogosfera. A todos os que eventualmente passarem por cá, sejam bem-vindos e espero não aborrecer-vos!